Deus tem um jeito mesmo muito particular de falar comigo,
seja por uma imagem, usando uma pessoa, ou em um texto, um trecho de um livro,
uma musica. Ele não desiste de mim, nunca e eu O agradeço imensamente por isso.
Comecei a ler ontem o
livro do Pe Fabio de Melo – É sagrado viver, e achei muitas partes lindas e
tocantes, na verdade tenho uma ligação
muito forte com o Pe Fabio de Melo, pois ele participa da minha vida e
da minha historia de uma maneira muito bonita, nas palavras dele encontro força
e consolo sempre, e ele tem uma maneira muito especial de falar comigo, sempre.
E sempre na hora certa, do jeito certo e no momento em que eu mais preciso.
Hoje li uma parte desse livro que dizia assim:
“Uma carta sem segredos”
Tenho diante de mim o pulsar sereno de convicções
adquiridas. Pudera eu comunicá-las com a mesma serenidade com que pulsam.
Sinto-me no direito de poder dizer. Tens o direito de não considera-las.
Acredito que viver o conflito consiste em ter nas mãos
metade da mudança. Eu sei que mudança de comportamento não se qualifica, mas
percebe-se pelo instaurar sereno da paz em nós. É isso o que queremos, é isso o
que buscamos.
O que importa é não fugir, e assumir o autoconhecimento como
investimento necessário, afinal tu serás o companheiro que terá que aturar a
vida toda. O que és, o que podes, o que não podes e o que deves serão a pauta
na qual a vida se inscreverá. Os sonhos e as realidades deverão ser desvendados
e, aos poucos, terás de possuir a síntese de duas instancias. Sonhar sempre,
mas o sonho possível, aquele que se percebe brotar da realidade existencial
pousada sobre suas mãos.
O que tens hoje nas mãos? O que te é possível? Certamente é
o que precisas para a luta que hoje tens que travar. Penso que a ansiedade que
existe em ti tem sua raiz no discurso da falta. Buscas os preenchimento de um
mundo de ausências rasa, facilmente preenchidas. Uma canção, um encontro com os
amigos, mas por vezes elas se configuram e assumem forma de abismo e, nesse
momento, não há metáfora alguma que as possa preencher. Aí nasce a saturação.
Não basta, nada explica, nada fala e nada o satisfaz.
Acredito muito no que podes, mas também acredito no qu não
podes. Uma realidade não anula a outra; apenas traça o perfil de tua verdade,
mostra o que és.
Sei o quanto te custa conviver com isso, afinal vieste muito
tempo sob o peso da exigência e da cruel comparação aos outros. E por mais
verdadeiro que seja o amor que te dedicaram, no fundo, la onde pulsa a tua
solidão ôntica, esse amor nunca bastou. Daí nasce a falta, a ausência e a
necessidade do discurso metafórico que tanto utilizas.
Metáfora é o requinte com que vestimos a realidade. Eça é o
disfarce real, mostrado, exposto, mas sem revelar. É a luta para que o simples
seja maquiado e não seja revelado em seu despojamento. Com a metáfora, nós
tentamos nos livrar do desconserto da nudez.
Não há nenhum problema em revestir a vida de metáforas. São
elas que nos salvam da mesmice, que dão cor aos nossos dias. Sem ela, a
realidade nos esmagaria com seus fardos. Mas há que se cuidar de um detalhe.
Não é justo tornar a vida uma metáfora.
Por isso, não temas o momento do despojamento.
Compreenderás, com ele, que a vida é só o que temos. Só ela realmente importa. Mesmo
porque sem ela nada será possível. Todos os outros desdobramentos se dão se a
vida ainda estiver em nós. Crava os olhos na tua pequenez e descubra o quanto
ela é grandiosa. És muito, és pouco. O espirito de onipotência não nos faz
melhores, apenas mais pesados. Ele nos conduz a um capo de possibilidades e
depois nos abandona!
Identificas-te com o “menino abandonado” e por isso pedes o
amor de domínio. Inconscientemente te entregas ao domínio dos afetos. Tens
necessidade do aconchego e da segurança de outra vontade. Não precisa ser
assim. Resguardar a liberdade, ainda amarrado pelo amor, é um direito a que
nunca podemos renunciar.
Aqui mora o conflito do amor possessivo. As pessoas nos
tratam de acordo com o que autorizamos. Se inconscientemente pedes o domínio,
ele se dará. Mas sei que estás incomodado com as amarras afetivas em que te
encontras. Vives o fastio da dependência. Que bom. A saturação pode ser a porta
por onde por onde nos chegam grandes mudanças. A crise sempre resguarda a
possibilidade de uma grande conquista. O caminho da mudança está diante de ti.
Terás primeiramente de proclamar tua liberdade, para que alguém te ame sem te
aprisionar.
Essa proclamação não é grito que se aprende da noite para o
dia, mas cedo ou tarde terá de começar. Não poderás fugir a vida toda. É uma
questão de sobrevivência. Aquilo de que foges hoje, amanha terás de temer ainda
mais. Quanto mais adiares a luta, tanto mais frágil te sentiras!
A comunhão que o coração de Deus nos inspira torna-nos
participantes de outras histórias. Não estamos sós. Em algum lugar, um coração
sofre semelhante angustia. E busca e deseja o aprimoramento do modo de ser e
estar no mundo.
Sei que queres o aprimoramento do teu ser. Primeiros passos já
foram dados. Hoje tu és mais livre do que foste ontem, afinal o querer é a
primeira configuração do realizar. Ele é essência do ato de ser livre, e por
meio dele nos inserimos na dinâmica da vida. Quem não alimenta o seu querer,
mesmo que ainda respire, esta morto.
Mais vivo do que nunca vou ficando por aqui. Desculpe-me ter
invadido sua casa. Não sei se cheguei em boa hora!
Desconsidera tudo o que julgar desnecessário. Falar sozinho
é sempre um risco, afinal as intervenções alteram e purificam os pontos de
vista e as compreensões.
Tens agora em tuas mãos um discurso ou uma pregação - como
diria um outro amigos meu , mas eu te asseguro que é um prosear bem-intencionado,
fruto de um coração irmão, que no silencio da prece luta contigo!
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